Sonhei que eles transitavam sem me notar...



Sonhei que eles transitavam sem me notar...
Que o sol pouco a pouco ao amanhecer tocava em pontos que não eram os meus...
Que o vento era o único que me atingia fria e pesadamente como em forma de um aviso a ir com ele.
Ir há um lugar que não era novo.
Ali para que me notassem.
Onde o calor do sol se fizesse palpável...Ah! Quimera.
Decidi ouvir seu chamado. Entretanto, lhes confesso que sair da sua zona de conforto não fora uma tarefa fácil. Antes,complexa.
Reconhecer que as possibilidades poderiam ser infinitas...
Nessa carreira, o cantar dos pássaros me vieram como acalanto.
Mais que depressa pus-me a procura destes.E qual não fora o pesar... Ali estavam... Ali cantavam... Ali se faziam serem ouvidos,notados,tocados e presos...
Logo minhas lágrimas se fizeram presentes... E num piscar de olhos marejados me vi como se estivesse olhando para um espelho...
Meu reflexo havia mudado...Mas sabia que era eu.
LÁ LÁ LÁ LÁ ,emiti com graciosidade e como nunca o fizera.
É certo que tal canto trazia consigo algo que aos poucos me obrigava a unir as mãos. Essas que quando dei por mim já não existiam...
Minha boca já não possuía lábios...
E então suei frio. Estava nu.
O desespero fora espontâneo - inevitável.
Tentei me esconder até que percebi que a minha  volta haviam paredes com vigas bem estreitas e espaçadas entre si. Apenas uma parede recebia uma textura diferente. Firme.
Com um olhar rápido notei que na parte superior uma barra de ferro ou aço - o qual hoje é indiferente - dava a impressão de me sustentar sob aquele espaço.
Ao voltar meu olhar para baixo, fui recebido por uma mal estar - suspeito ser vertigem - Não havia mais chão.
Sem explicação aparente senti vontade de entoar novamente aquela canção.
Tão logo cantei senti algo o qual poderia ser classificado como tremor. O espaço em que estava foi deslocado para o calor do sol...
Tão logo cantei,o vento me tocou...Ouriçando minha...penugem?
Aos poucos pude me controlar.
E antes que pudesse improvisar um novo arpejo, fui tocado bruscamente pelo caro vento...
Tropecei e caí.
Eles não viram a cena...O sol como que cúmplice também partira...
No chão...Sozinho...Sem o soprar...
Minha voz ensaiou embargada um novo cântico...
Sem sucesso...Fiquei ali...Sonhei...Sonhei em poder sair daquele lugar...
De usar minhas asas...
E antes que pudesse me animar com as imagens da minha imaginação...Outra vez,mais gélido que nunca, me tocou...
Dessa vez preferi rejeitar seu pedido...
Estranhamente aquilo o qual chamei de portinhola se abriu...Poderia ser minha chance...De ser livre...De sonhar.
Mas o piscar é certeiro e antes que pusesse em prática meus devaneios ... Não estava mais ali...
Agora, eu era eu mesmo... Ou o que achava que me pertencia estava de volta aos seus lugares...
A menos é claro...Eles,o sol e o vento.
Levantei.
Pensei sobre aquilo.
E resolvi me arrumar para trabalhar.
Ao sair da cama sem que eu notasse, uma pena enxarcada cai da cama e lentamente sobrevoou até que parou no chão.

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